Vale do Alto Homem - Uma aventura a solo

A madrugada do dia 19 de Agosto de 2023 começou com o céu carregado a prometer chuva o que logo aconteceu ainda antes de levantar a luz da manhã... Num dia de verão isso não é um problema para quem gosta de se aventurar pela montanha... Já fiz caminhadas em pleno inverno, nomeadamente em Janeiro, com chuva torrencial todo o dia e em algumas passagens com os pés cobertos de água até aos tornozelos... O segredo é simples, é nunca deixar que o corpo arrefeça... O que é mesmo um problema é chegares ao carro às 5:30 da manhã e verificares que tens um pneu furado quando tens uma caminhada programada com o excepcional Rui Barbosa...

Um simples furo estava prestes a estragar-me o dia que deveria ser maravilhoso... Que me lembre, este foi para aí o segundo furo que me aconteceu em toda a minha vida e por isso fiquei fulo como um menino a quem roubam um chupa de caramelo... Desconsolado, derrotado, lá mandei mensagem ao Rui a dizer que não esperassem por mim...

Entretanto fui-me recompondo, a coisa não estava totalmente perdida... Ao sábado, passe a publicidade, a Silvalde Pneus abre às 9H00 e assim cerca das 10:30 tinha já novos pneus e estava pronto e com muita vontade de arrancar para o Gerês... Quando a vontade é maior do que nós próprios a coisa pode acontecer... Telefonei à minha querida esposa e fiz o convite para me acompanhar...

A minha ideia era fazer-me ao caminho e tentar apanhar o grupo do Rui Barbosa na volta das Minas dos Carris pois supostamente eles levariam-me um avanço de 4 a 5 horas... Nunca tinha feito esse percurso mas isso não é coisa que me assuste, pelo contrário, ainda me estimula mais... O Vale do Alto Homem é uma das zonas interditas do Parque Nacional só acessível a quem tiver autorização prévia do ICNF para fazer esse caminho... Como o meu nome fazia parte do grupo do Rui Barbosa, isso para mim era o bastante para me sentir autorizado e eu não ía perder a oportunidade de me fazer ao caminho... E assim cerca das 12:30 a Lu deixou-me na Portela do Homem e só voltaria para me recolher quando eu lhe manda-se mensagem...

Caminhar pela montanha para mim é de um enorme prazer e quanto mais magnífica, bela e selvagem ela é, maior é o sentimento... Fazer o registo fotográfico do percurso e da sua fascinante envolvente para mais tarde o poder relembrar e apreciar novamente é o final perfeito do que é para mim uma excelente caminhada... E aí aconteceu um outro problema, esse sem solução... De alguma forma perdi todas as fotos que fiz entre as 14:00 e as 15:43... Só dei por isso quando fazia uma selfie junto à Cabana das Abrótegas e não conseguia vizualizar o resultado... O telemóvel estava configurado para guardar as fotos em cartão SD e só consegui ver resultados depois de alterar a configuração para as fotos caírem na memória interna do telemóvel... Fiquei desiludido pois apostei bastante nesses registos da ida, entre os quais está uma zona do caminho onde o desnível para o Rio Homem é superior e onde este recebe as águas de um ribeiro na margem sul, mas ainda assim pensando positivo, o mal poderia ter sido maior se tivesse perdido todas as fotos do dia... Entretanto, o ribeiro e o local já têm nome, são o Modorno mas muitos também o denominam por Madorno...

Voltando à caminhada, eu bem que procurei encontrar-me com o grupo que deveria ter iniciado o regresso das Minas dos Carris cerca das 14.30 mas, chegado eu cerca das 15:30 ao Curral das Abrótegas, que desconhecia e tão pouco sabia que existia, parei para fotografar o local e logo aí fazendo alguns cálculos cheguei à conclusão que muito provavelmente a caminhada do grupo não teria acontecido... Poderia eu ter seguido em frente até aos Carris mas, dado o adiantado da hora, já muito perto das 16, isso iria implicar um regresso tardio à Portela do Homem o que não seria obstáculo se não tivesse a Lu à minha espera para irmos jantar sem stress(es)...

E assim foi a caminhada, Portela do Homem / Curral das Abrótegas e regresso ao ponto de partida, das 12:30 às 18:20, ou seja, cerca de 3 horas para cada lado... Até às Minas devem ser menos de 4H para cada lado... O caminho não é fácil dado que se trata de um estradão que já foi em tempos de terra batida sobre rocha por onde circulavam camionetas de carga com o minério saído das minas contudo do estradão apenas restam os calhaus soltos em grande parte do percurso, no entanto, a aventura e a paisagem compensam de largo esse pormenor...

P.S.

Entretanto enquanto preparava esta página fui pesquisando na net e acabei por encontrar alguns dos nomes dos locais de passagem ou associados a este percurso e só assim pude identificar os mesmos e complementar com mais informação as imagens que postei abaixo... Nomes como: Fonte da Abilheirinha, Curvas do Febras, Cabeço do Madorno (com o seu Vale, o seu Ribeiro e a sua Ponte), Lage do Sino, Corga dos Salgueiros da Amoreira, Teixo, etc... A Água da Pala e a Ponte do Cagarouço ainda me dão voltas à cabeça...

Antes de ir para esta caminhada os nomes que faziam parte do meu vocabulário e que facilmente se podem identificar no mapa estavam limitados a: Portela do Homem, Rio Homem, Cascata de S. Miguel, Vale do Alto Homem, Costa do Sol, Cabeço do Cantarelo e daí para cima mais nada até às Minas dos Carris e ao Pico da Nevosa... Água da Pala está também assinalada nos mapas mas mesmo assim, tendo já passado pelo sítio, ainda não o consigo identificar localmente com certeza...